segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Origem do Mito

Mesmo não fazendo parte de um grupo religioso, grande parte das pessoas conhece o mito judaico-cristão da criação. A criação do mundo, das plantas, dos animais e, por fim, a coroa da criação: o homem e a mulher – Adão e Eva. Segundo a Bíblia e a Torah, Deus criou Adão e Eva à Sua imagem e semelhança, e à partir deles, deu início à história da humanidade. Deus criou Adão, e de sua costela, fez Eva, sua companheira, sua auxiliadora. Gênesis 2.18-25 (Bíblia). Contudo, existem outras explicações para a história da origem do mundo, nas entrelinhas dessas versões. Em versões marginais, encontramos Lilith, a primeira esposa de Adão, criada como ele, antes de Eva. Em princípio, Lilith e Adão eram um só, sendo separados em seguida, vivendo assim, um intenso amor. Ao se confrontarem, Lilith se afasta de seu marido e é expulsa do paraíso. Desesperado em sua solidão, Adão pede por uma nova companheira, surgindo assim, Eva “Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne!” Gênesis 2.23 (Bíblia). O mito de Lilith é um dos mais mal-compreendidos dos mitos, sendo até mesmo banido da tradição escrita, quando esta foi compilada.

A primeira mulher de Adão, um demônio, uma succubus, quem foi Lilith e onde podem ser encontradas as fontes de sua origem?

Tudo tem seu início na “Tradição Oral”. Podemos afirmar que tradição oral é “o testemunho oral que transmite conhecimento de uma geração para a seguinte por meio da tradição, perpetuados por meio da escuta, observação, imitação, repetição, reiteração." (Maria Jose Vicentini, "Evolução"). Para que a fé não se perdesse com o tempo, as histórias, leis e orientações religiosas eram passadas oralmente de geração em geração em algumas culturas. “Os 1ºs elementos foram escritos longos, repetidos de geração em geração e evocam o destino de grandes personagens, ou a origem de um rito.” (MARTIN-ACHARD). Vemos isso claramente na história dos israelitas: “Nesse dia cada um dirá a seu filho: Assim faço pelo que o Senhor fez por mim quando saí do Egito. Isto lhe será como sinal em sua mão e memorial em sua testa, para que a lei do Senhor esteja em seus lábios [...]” Êxodo 13.8,9 (Bíblia) . Os testemunhos da Torah ou Pentateuco – os primeiros cinco livros da Bíblia – são escritos pela fé dos Rabis, mas também são testemunhos de lendas, mitos, sagas e usos folclóricos populares, que os Rabis usavam para explicar as origens do mundo e da humanidade.

O mito de Lilith vem da tradição oral, reunida nos textos da sabedoria rabínica, e se coloca ao lado, anos depois, da versão bíblica dos sacerdotes. Encontramos Lilith no Zohar – livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico – no Talmude, o livro dos hebreus, nos estudos sumérios e acadianos e nos testemunhos orais dos rabinos sobre o Gênesis.

A falta de registros sobre Lilith na Bíblia pode ser explicada pelo fato de sua lenda ter sido perdida ou removida durante a época da transposição de versões das tradições do Pentateuco, além das modificações sofridas pelos Pais da Igreja – líderes da igreja cristã que começaram a ser chamados dessa forma por volta do ano 95 d.C. O Pentateuco foi escrito por diversas tradições. Entre essas tradições encontramos: a tradição javista – que relata a criação (Gênesis 2 a 4), a eleição de Abraão e a libertação do Egito, e termina com a ocupação da terra prometida. Escrito no reino de Judá, foi o desenvolvimento de um antigo credo ritual lembrando as diversas etapas da história do povo eleito (Dt 26.5-10; Js 24.2-13) – e a tradição sacerdotal – escrita por sacerdotes exilados na Babilônia que, sob influência de Esdras, no século V a.C., fazem este documento, que contém uma série de leis, em grande parte cultuais; uma extensa narração da História Santa, que começa com a criação (Gn 1) e conta as alianças sucessivas que Deus fez com Noé, Abraão, Moisés e com o sacerdócio. A transposição dessas tradições influenciou grandemente na definição das histórias e mitos que ficaram e foram aceitos como verdade. Esse é um dos principais motivos da falta de conhecimento por parte dos ocidentais a respeito do mito de Lilith, e a causa da repulsa por parte dos cristãos, quando têm acesso a informações extremamente equivocadas a seu respeito.

Lilith, para nós, nasce, talvez, do sonho ou da narrativa dos Rabis, nasce de uma necessidade ou de uma fantasia coletiva” (SICUTERI).

Instaurado na imaginação, como explicação daquilo que não se pode racionalizar, o mito de Lilith não só se fixou nas culturas antigas, como se tornou o arquétipo da Grande Mãe em diversas épocas. O demônio que come crianças, a succubus que possui os homens enquanto dormem, a Lua Negra, a Bruxa, enfim, infindáveis versões relatam sua existência e nos fascinam, por representarem as possíveis respostas para estereótipos femininos que não se adequam ao que é pré-ordenado.

Antes de negarmos o conhecimento a respeito de Lilith, ou simplesmente rotulá-la, é importante e compensatório conhecermos sua origem, história e a importância de seu mistério na busca da compreensão de nós mesmos, pois “falar sobre Lilith não tem a ver com o racional, é uma fantasia” (SICUTERI) .

Lilith desperta em nós o deslumbramento, nos seduz, nos encanta como um feitiço. Seja bem-vinda/o ao seu mito, à sua história, se deixe levar pelo seu encantamento.

Fontes:
Bíblia Nova Versão Internacional
pt.wikipedia.org/wiki/Tradição_oral
MARTIN-ACHARD R. “Como ler o Antigo Testamento” Aste
SICUTERI, Roberto. “Lilith, A Lua Negra”. Paz e Terra, São Paulo, 1990

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A Deusa-Noiva

Nos tempos antigos as sociedades eram matrilineares – posições e propriedades passadas de mãe para filha. Até o 3º milênio do Oriente Próximo e Médio as mulheres representavam o divino.

Era muito comum a prática de sacerdotisas sagradas. A palavra grega hierodulare = “mulheres sagradas”, foi equivocadamente traduzida pela cultura moderna como “prostitutas” do templo.

A origem dessas mulheres data do período neolítico (7000-3500a.C.), quando Deus era honrado como feminino nas terras conhecidas hoje como Oriente Médio e Europa.

No mundo antigo, a sexualidade era sagrada, dádiva da Deusa do Amor. Essas sacerdotisas eram invocadoras do amor, do êxtase e da fertilidade da deusa. Na antiga Israel era a representada como a deusa Asserá, na Suméria, Inata e na cultura Cananéia, a Astarté. Há vestígios da presença de práticas matrilineares na Palestina, no 1º século.

Há semelhanças entre as imagens eróticas dos Cânticos, na Bíblia e a poesia romântica da Babilônia, da Suméria e de Canaã na Antiguidade.

“Enquanto o rei estava em seus aposentos, o meu nardo espalhou sua fragrância. O meu amado é para mim como uma pequenina bolsa de mirra que passa a noite entre os meus seios”
(Cânticos 1.12,13)
“Entrei em meu jardim, minha irmã, minha noiva; ajuntei a minha mirra com as minhas especiarias. Comi o meu favo e o meu mel; bebi o meu vinho e o meu leite. Comam, amigos, bebam quanto puderem, ó amados!”
(Cânticos 5.1)

A Noiva, Deusa da Lua ou da Terra, era a esposa do Rei-Sol, amiga e parceira do Noivo-Deus – “sua imagem refletida em um espelho, sua ‘outra metade’, um alter-ego feminino ou ‘irmã gêmea’” – motivo pelo qual o símbolo do espelho é mantido na iconografia da deusa. O Noivo arquétipo não poderia ser completo sem ela. “O casamento sagrado do Noivo com sua Noiva-Irmã não se limitava à paixão física, era também uma união de êxtase espiritual e emocional.

Na mitologia “pagã” - pagã no sentido de “não-cristã”, não no sentido do significado da palavra “camponês” - os Deuses do Sol Osíris, Dumuzi e Adônis foram mortos e ressuscitados e, em cada casa, suas viúvas Ísis, Inara e Afrodite, derramaram seu luto sobre o corpo do amado. Conta-se a história que Ísis, Noiva-Irmã de Osíris, orou sobre o corpo mutilado dele e concebeu o filho Hórus após a morte do pai. “Em cada culto é a Noiva que chora a morte do deus sacrificado”.

Deus como feminino:
Nos ritos do Oriente Médio na Antiguidade a Deusa é a Noiva que unge o escolhido, oferecendo-lhe graça e majestade.

Na Suméria, Babilônia e Canaã, ungir a cabeça do rei com óleo era um ritual realizado pela herdeira ou pela sacerdotisa real, que representava a Deusa. Em grego, esse ritual se chama hieros gamos = casamento sagrado. A unção da cabeça tinha significado erótico: a cabeça era o símbolo do falo ungido pela mulher para a penetração durante a consumação física do casamento.

Nesse casamento eram entoadas canções, louvor e agradecimento. Após a consumação era servido um banquete a toda cidade. A bênção da união real era refletida na fertilidade das colheitas e do rebanho e no bem-estar da comunidade.

Através da unção com a sacerdotisa, o rei recebia o status de majestade e ficava conhecido como “o ungido” – em hebraico, “o Messias”. No Oriente Próximo, antigos ritos revelam a Grande Deusa que ungia a cabeça do rei, oferecendo-lhe um banquete e enchendo o seu cálice com bênçãos. Ela atuava como uma advogada que o defendia de seus inimigos.

“Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos. Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice”
(Salmo 23.5)

Em alguns cultos da região mesopotâmica, rituais de fertilidade manifestavam o rei eleito pela sacerdotisa do templo local ritualmente sacrificado para garantir a fertilidade da terra. “Plantar” o rei sacrificado significava garantir a fertilidade e prosperidade.

As invasões indo-arianas (aproximadamente 350 a.C.) introduziram a idéia da suprema deidade masculina. Aos poucos, os cultos baseados em um deus masculino de poderes ilimitados, foram substituindo a adoração da deusa. Na Palestina, os profetas assumiram o antigo papel de ungir o rei. Assim, o rei assumiu o papel de representante da deidade. A Deusa foi oficialmente banida na antiga Europa e no Ocidente em 500 d.C., quando seu último templo foi fechado.




Fonte: STARBIRD, Margaret. “Maria Madalena e o Santo Graal”, Rio de Janeiro, Sextante, 2004.

Outras Citações (Versículos): Bíblia Nova Versão Internacional

domingo, 13 de janeiro de 2008

As Origens

“Então disse Deus: Façamos o homem, que seja a nossa imagem, segundo a nossa semelhança” Gênesis 1.26. Um misto de epher, dam, marah (pó, sangue e bile) deu vida a Adão, o primeiro homem. Em princípio, um ser androgginos, macho e fêmea: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher” Gênesis 1.27. No Livro do Esplendor – o Sepher Há-zohar – é citado: “Rabi Abba disse: O primeiro homem era macho e fêmea ao mesmo tempo, pois a escritura diz: E Elohim disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gen. I, 26). É precisamente para que o homem se assemelhasse a Deus que foi criado macho e fêmea ao mesmo tempo (...) Nós deduzimos que cada figura, que não apresenta em si o macho e a fêmea, não se assemelha à figura celeste. (...) Recorde-se que o Senhor ... não permanece onde o macho e a fêmea não estão unidos (...) O macho não merece o nome de homem, enquanto não está unido à fêmea”. Em seguida, Adão é mais que um ser andrógino, mas torna-se um ser hemafrodita, com duas faces, dois orifícios, que goza de dois mundos, um ser bifronte. Nesta fase, Adão ignora a alteridade sexual, ele tem natureza animal, e se acasala também com animais.

Num terceiro momento, o primeiro homem aparece dotado de alma e reconhece a necessidade de mulher. “O homem deu então nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante.” (Gênesis 2.20) Adão havia conhecido todos os animais no acasalamento, assim, entendeu a necessidade da diferenciação.

É subentendido, nessa androginia, a existência de um casal. “Homem e mulher ele os criou, os abençoou e lhes deu o nome de “Homem”, no mesmo dia em que foram criados” Gênesis 5.2. Eva aparece como a segunda, que toma o lugar da primeira: “Desta vez é osso dos meus ossos e carne da minha carne” Gênesis 2.23. Essa exclamação seria porque desta vez é uma fêmea humana e não uma fêmea animal ou porque realmente existiu a primeira fêmea humana, criada junto a Adão e não a partir dele? Segundo o Comentário do Beresit-Rabba: “R. Jehudah em nome de Rabi disse: No princípio a criou, mas quando o homem a viu cheia de saliva e de sangue afastou-se dela, tornou a criá-la segunda vez, como está escrito: “Desta vez. Esta e aquela da primeira vez”. “ Na criação de Lilith está implícita a perda da unidade mágico-religiosa dos dois sexos na pessoa única do “homem”. Seu nascimento se encontra nos dias da Gênese. Lilith nasce após Adão, no final do sexto dia. Por ser um mito arcaico anterior ao mito de Eva, pode-se dizer que ela foi a primeira companheira de Adão. Porém, Lilith já nasce como um demônio, um espírito que ficou informe porque Deus descansou – era o fim do sexto dia – antes de lhe dar um corpo. Lilith é coberta de sangue e saliva, símbolo do desejo. Durante as poucas horas do sexto dia e de todo o Sábado Adão consumiu sua relação com Lilith. A primeira relação de amor entre essas duas criaturas, possivelmente como descreve o Cântico dos Cânticos:

Como és bela, minha amada,

Como és bela!

Seus olhos são como pombas.

Como és belo, meu amado,

E que doçura!

Nosso leito é todo relva.

As vigas da nossa casa são de cedro,

E seu teto, de ciprestes.

O primeiro homem e a primeira mulher se unem cara a cara, diferente dos outros seres. Mas o amor dos dois foi logo perturbado: Lilith se mostrava impaciente com a posição natural – a mulher por baixo e o homem por cima. “Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por você? Contudo eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.” Adão nega e a submete. Lilith não aceita essa imposição e se rebela. Adão é tomado pela sensação de abandono. O sol se põe e ele sente medo da escuridão. Ele perdeu Lilith. Lilith voou para as margens do Mar Vermelho, profanou o nome de Deus e confirmou-se como demônio.

Jeová Deus proferiu sua ordem: “O desejo da mulher é para o marido. Volta para ele”. Mas Lilith recusa: “Não quero mais ter nada a ver com meu marido”. Jeová Deus insiste: “Volta ao desejo, volta a desejar teu marido”. Sua natureza mudou quando Lilith blasfemou contra Deus. Ela não é mais a esposa de Adão, é o demoníaco manifesto.

“Lilith, para nós, nasce, talvez, do sonho ou da narrativa dos Rabis, nasce de uma necessidade ou de uma fantasia coletiva” (Roberto Sicuteri). Essa é a origem do ser humano, macho e fêmea, segundo as versões bíblica, judaica e rabínica.

“Desde o início de sua criação, foi somente um sonho”. (Rabi Simon Ben Laqish)


Fonte: Sicuteri, Roberto. "Lilith, A Lua Negra". Paz e Terra, São Paulo, 1990.

domingo, 2 de dezembro de 2007

Lilith, rainha das succúbus

Lilith, ou Lilitu ("espírito de vento" na mitologia Assíria-Babilônica) foi uma ávida amante do sexo.
Na lenda, Lilith foi a primeira esposa de Adão. De qualquer maneira, Lilith queria uma relação de igualdade com Adão. Adão aborreceu-se por Lilith negar-se a assumir uma posição submissa. Ela queria deitar por cima de Adão. Todas as vezes em que eles faziam sexo, Lilith mostrava-se inconformada em ter de ficar por baixo de Adão, suportando o peso de seu corpo. E indagava: "Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual." Mas Adão se recusava a inverter as posições, consciente de que existia uma "ordem" que não podia ser transgredida. Lilith deve submeter-se a ele, pois esta é a condição do equilíbrio preestabelecido. Adão tornou irredutível sua vontade e recusou o pedido de Lilith.
Quando Adão tentou forçá-la a fazer as coisas a seu modo, ela proferiu o nome mágico de Deus, elevou-se no ar, e voou sem rumo à procura de parceiros sexuais mais amenos. Sua vida sexual rapidamente sofreu uma grande mudança. Ela teve turbulentas aventuras eróticas com anjos caídos. Lilith usou seus conhecimentos mágicos para voar até o Mar Vermelho. Lá, onde habitam os demônios e espíritos malignos, segundo a tradição hebraica. É um lugar maldito, o que prova que Lilith se afirmou como um demônio, e é o seu caráter demoníaco que leva a mulher a contrariar o homem e o questionar em seu poder.
Muitos homens experimentaram o medo de seus ataques. Há muito, muitos homens procuraram explicações para seus sonhos molhados. De acordo com o Talmud:
"– É imprudente para o homem dormir em uma casa como único ocupante, pois Lilith poderá capturá-lo" (Wedeck 88)
Homens que experimentaram "erupções" noturnas acreditam que eles tenham sido seduzidos por Lilith, rainha das succúbus, em seus sonhos. A estes homens era recomendado dizer encantamentos para prevenir sua prole de vir a se tornar demônios. Alguns homens não eram tão sortudos. Esses condenados tinham seu sangue sugado para fora de seus corpos.
O texto a seguir foi extraído de um conto folclórico hebraico:

"A esposa trouxe um espelho e toda a fina mobília do porão de seu próprio lar e orgulhosamente exibiu-a pelos cômodos. Ela pendurou o espelho no quarto de sua filha, que possuía os cabelos negros em forma de coquete. A garota olhava-se, de relance, por todo o dia, e desta maneira ela era arrastada para a teia de Lilith. Aquele espelho tinha sido pendurado em um covil de demônios, e uma filha de Lilith tinha feito do espelho a sua casa. E quando o espelho fora pego de uma casa assombrada, a succubus viera junto com ele. Pois todo espelho é uma passagem para o outro mundo e este era um caminho que dava direto para a caverna de Lilith.
Esta caverna foi para onde Lilith fugiu quando abandonou Adão e o Jardim de Éden por toda a eternidade, a caverna onde ela divertiu-se com seus amantes demoníacos. Destas uniões, multidões de demônios nasciam, que acabavam por, em bandos, saindo da caverna e infiltrando-se no mundo. E quando eles querem retornar, simplesmente entram no espelho mais próximo.
É por isso que é dito que Lilith faz sua casa em todos os espelhos. Agora a filha de Lilith, que tinha feito do seu lar o espelho que era todo o momento olhado pela garota para o qual posava. Ela aguardou seu tempo e, um dia, ela escorregou para fora do espelho e possuiu a garota, entrando através seus olhos. Deste modo ela tomou o controle dela, excitando seu desejo à vontade. Então, aquela jovem garota, controlada pelos desejos maldosos da filha de Lilith, passou a dormir com todos os jovens homens que viviam na mesma vizinhança."

Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmude, o livro dos hebreus.
Lilith é o arquétipo da mulher indomada, que luta apaixonadamente pelo poder pessoal. Suas características são destemor, força, entusiasmo e individualismo.

Fonte:
1. Extraído de "Lilith's Cave", Lilith's Cave: contos sobrenaturais judeus, editado por Howard Schwartz (São Francisco: Harper & Row, 1988)
2. (Joëlle de Gravelaine in "Lilith und das Loslassen", Astrologie Heute Nr. 23)
Tradução:Maria Fernanda Alves Guimarães
3. Extraído de "Lilith's Cave", Lilith's Cave: contos sobrenaturais judeus, editado por Howard Schwartz (São Francisco: Harper & Row, 1988)