Lilith לילית
A succubus presente no imaginário desde os tempos antigos. O lado feminino obscuro, a anima, o arquétipo. Criada ao lado de Adão e não de sua costela, ela foi a primeira mulher no mito da criação.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
A Origem do Mito
A primeira mulher de Adão, um demônio, uma succubus, quem foi Lilith e onde podem ser encontradas as fontes de sua origem?
Tudo tem seu início na “Tradição Oral”. Podemos afirmar que tradição oral é “o testemunho oral que transmite conhecimento de uma geração para a seguinte por meio da tradição, perpetuados por meio da escuta, observação, imitação, repetição, reiteração." (Maria Jose Vicentini, "Evolução"). Para que a fé não se perdesse com o tempo, as histórias, leis e orientações religiosas eram passadas oralmente de geração em geração em algumas culturas. “Os 1ºs elementos foram escritos longos, repetidos de geração em geração e evocam o destino de grandes personagens, ou a origem de um rito.” (MARTIN-ACHARD). Vemos isso claramente na história dos israelitas: “Nesse dia cada um dirá a seu filho: Assim faço pelo que o Senhor fez por mim quando saí do Egito. Isto lhe será como sinal em sua mão e memorial em sua testa, para que a lei do Senhor esteja em seus lábios [...]” Êxodo 13.8,9 (Bíblia) . Os testemunhos da Torah ou Pentateuco – os primeiros cinco livros da Bíblia – são escritos pela fé dos Rabis, mas também são testemunhos de lendas, mitos, sagas e usos folclóricos populares, que os Rabis usavam para explicar as origens do mundo e da humanidade.
O mito de Lilith vem da tradição oral, reunida nos textos da sabedoria rabínica, e se coloca ao lado, anos depois, da versão bíblica dos sacerdotes. Encontramos Lilith no Zohar – livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico – no Talmude, o livro dos hebreus, nos estudos sumérios e acadianos e nos testemunhos orais dos rabinos sobre o Gênesis.
A falta de registros sobre Lilith na Bíblia pode ser explicada pelo fato de sua lenda ter sido perdida ou removida durante a época da transposição de versões das tradições do Pentateuco, além das modificações sofridas pelos Pais da Igreja – líderes da igreja cristã que começaram a ser chamados dessa forma por volta do ano 95 d.C. O Pentateuco foi escrito por diversas tradições. Entre essas tradições encontramos: a tradição javista – que relata a criação (Gênesis 2 a 4), a eleição de Abraão e a libertação do Egito, e termina com a ocupação da terra prometida. Escrito no reino de Judá, foi o desenvolvimento de um antigo credo ritual lembrando as diversas etapas da história do povo eleito (Dt 26.5-10; Js 24.2-13) – e a tradição sacerdotal – escrita por sacerdotes exilados na Babilônia que, sob influência de Esdras, no século V a.C., fazem este documento, que contém uma série de leis, em grande parte cultuais; uma extensa narração da História Santa, que começa com a criação (Gn 1) e conta as alianças sucessivas que Deus fez com Noé, Abraão, Moisés e com o sacerdócio. A transposição dessas tradições influenciou grandemente na definição das histórias e mitos que ficaram e foram aceitos como verdade. Esse é um dos principais motivos da falta de conhecimento por parte dos ocidentais a respeito do mito de Lilith, e a causa da repulsa por parte dos cristãos, quando têm acesso a informações extremamente equivocadas a seu respeito.
“Lilith, para nós, nasce, talvez, do sonho ou da narrativa dos Rabis, nasce de uma necessidade ou de uma fantasia coletiva” (SICUTERI).
Instaurado na imaginação, como explicação daquilo que não se pode racionalizar, o mito de Lilith não só se fixou nas culturas antigas, como se tornou o arquétipo da Grande Mãe em diversas épocas. O demônio que come crianças, a succubus que possui os homens enquanto dormem, a Lua Negra, a Bruxa, enfim, infindáveis versões relatam sua existência e nos fascinam, por representarem as possíveis respostas para estereótipos femininos que não se adequam ao que é pré-ordenado.
Antes de negarmos o conhecimento a respeito de Lilith, ou simplesmente rotulá-la, é importante e compensatório conhecermos sua origem, história e a importância de seu mistério na busca da compreensão de nós mesmos, pois “falar sobre Lilith não tem a ver com o racional, é uma fantasia” (SICUTERI) .
Lilith desperta em nós o deslumbramento, nos seduz, nos encanta como um feitiço. Seja bem-vinda/o ao seu mito, à sua história, se deixe levar pelo seu encantamento.
Fontes:
Bíblia Nova Versão Internacional
pt.wikipedia.org/wiki/Tradição_oral
MARTIN-ACHARD R. “Como ler o Antigo Testamento” Aste
SICUTERI, Roberto. “Lilith, A Lua Negra”. Paz e Terra, São Paulo, 1990
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
A Deusa-Noiva
Era muito comum a prática de sacerdotisas sagradas. A palavra grega hierodulare = “mulheres sagradas”, foi equivocadamente traduzida pela cultura moderna como “prostitutas” do templo.
A origem dessas mulheres data do período neolítico (7000-3500a.C.), quando Deus era honrado como feminino nas terras conhecidas hoje como Oriente Médio e Europa.
No mundo antigo, a sexualidade era sagrada, dádiva da Deusa do Amor. Essas sacerdotisas eram invocadoras do amor, do êxtase e da fertilidade da deusa. Na antiga Israel era a representada como a deusa Asserá, na Suméria, Inata e na cultura Cananéia, a Astarté. Há vestígios da presença de práticas matrilineares na Palestina, no 1º século.
Há semelhanças entre as imagens eróticas dos Cânticos, na Bíblia e a poesia romântica da Babilônia, da Suméria e de Canaã na Antiguidade.
“Enquanto o rei estava em seus aposentos, o meu nardo espalhou sua fragrância. O meu amado é para mim como uma pequenina bolsa de mirra que passa a noite entre os meus seios”
(Cânticos 1.12,13)
“Entrei em meu jardim, minha irmã, minha noiva; ajuntei a minha mirra com as minhas especiarias. Comi o meu favo e o meu mel; bebi o meu vinho e o meu leite. Comam, amigos, bebam quanto puderem, ó amados!”
(Cânticos 5.1)
A Noiva, Deusa da Lua ou da Terra, era a esposa do Rei-Sol, amiga e parceira do Noivo-Deus – “sua imagem refletida em um espelho, sua ‘outra metade’, um alter-ego feminino ou ‘irmã gêmea’” – motivo pelo qual o símbolo do espelho é mantido na iconografia da deusa. O Noivo arquétipo não poderia ser completo sem ela. “O casamento sagrado do Noivo com sua Noiva-Irmã não se limitava à paixão física, era também uma união de êxtase espiritual e emocional.
Na mitologia “pagã” - pagã no sentido de “não-cristã”, não no sentido do significado da palavra “camponês” - os Deuses do Sol Osíris, Dumuzi e Adônis foram mortos e ressuscitados e, em cada casa, suas viúvas Ísis, Inara e Afrodite, derramaram seu luto sobre o corpo do amado. Conta-se a história que Ísis, Noiva-Irmã de Osíris, orou sobre o corpo mutilado dele e concebeu o filho Hórus após a morte do pai. “Em cada culto é a Noiva que chora a morte do deus sacrificado”.
Deus como feminino:
Nos ritos do Oriente Médio na Antiguidade a Deusa é a Noiva que unge o escolhido, oferecendo-lhe graça e majestade.
Na Suméria, Babilônia e Canaã, ungir a cabeça do rei com óleo era um ritual realizado pela herdeira ou pela sacerdotisa real, que representava a Deusa. Em grego, esse ritual se chama hieros gamos = casamento sagrado. A unção da cabeça tinha significado erótico: a cabeça era o símbolo do falo ungido pela mulher para a penetração durante a consumação física do casamento.
Nesse casamento eram entoadas canções, louvor e agradecimento. Após a consumação era servido um banquete a toda cidade. A bênção da união real era refletida na fertilidade das colheitas e do rebanho e no bem-estar da comunidade.
Através da unção com a sacerdotisa, o rei recebia o status de majestade e ficava conhecido como “o ungido” – em hebraico, “o Messias”. No Oriente Próximo, antigos ritos revelam a Grande Deusa que ungia a cabeça do rei, oferecendo-lhe um banquete e enchendo o seu cálice com bênçãos. Ela atuava como uma advogada que o defendia de seus inimigos.
“Preparas um banquete para mim à vista dos meus inimigos. Tu me honras, ungindo a minha cabeça com óleo e fazendo transbordar o meu cálice”
(Salmo 23.5)
Em alguns cultos da região mesopotâmica, rituais de fertilidade manifestavam o rei eleito pela sacerdotisa do templo local ritualmente sacrificado para garantir a fertilidade da terra. “Plantar” o rei sacrificado significava garantir a fertilidade e prosperidade.
As invasões indo-arianas (aproximadamente 350 a.C.) introduziram a idéia da suprema deidade masculina. Aos poucos, os cultos baseados em um deus masculino de poderes ilimitados, foram substituindo a adoração da deusa. Na Palestina, os profetas assumiram o antigo papel de ungir o rei. Assim, o rei assumiu o papel de representante da deidade. A Deusa foi oficialmente banida na antiga Europa e no Ocidente em 500 d.C., quando seu último templo foi fechado.
Fonte: STARBIRD, Margaret. “Maria Madalena e o Santo Graal”, Rio de Janeiro, Sextante, 2004.
Outras Citações (Versículos): Bíblia Nova Versão Internacional
domingo, 13 de janeiro de 2008
As Origens
“Então disse Deus: Façamos o homem, que seja a nossa imagem, segundo a nossa semelhança” Gênesis 1.26. Um misto de epher, dam, marah (pó, sangue e bile) deu vida a Adão, o primeiro homem. Em princípio, um ser androgginos, macho e fêmea: “E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher” Gênesis 1.27. No Livro do Esplendor – o Sepher Há-zohar – é citado: “Rabi Abba disse: O primeiro homem era macho e fêmea ao mesmo tempo, pois a escritura diz: E Elohim disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança (Gen. I, 26). É precisamente para
Num terceiro momento, o primeiro homem aparece dotado de alma e reconhece a necessidade de mulher. “O homem deu então nome a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras. Mas o homem não encontrou uma auxiliar que lhe fosse semelhante.” (Gênesis 2.20) Adão havia conhecido todos os animais no acasalamento, assim, entendeu a necessidade da diferenciação.
É subentendido, nessa androginia, a existência de um casal. “Homem e mulher ele os criou, os abençoou e lhes deu o nome de “Homem”, no mesmo dia em que foram criados” Gênesis 5.2. Eva aparece como a segunda, que toma o lugar da primeira: “Desta vez é osso dos meus ossos e carne da minha carne” Gênesis 2.23. Essa exclamação seria porque desta vez é uma fêmea humana e não uma fêmea animal ou porque realmente existiu a primeira fêmea humana, criada junto a Adão e não a partir dele? Segundo o Comentário do Beresit-Rabba: “R. Jehudah
Como és bela, minha amada,
Como és bela!
Seus olhos são como pombas.
Como és belo, meu amado,
E que doçura!
Nosso leito é todo relva.
As vigas da nossa casa são de cedro,
E seu teto, de ciprestes.
O primeiro homem e a primeira mulher se unem cara a cara, diferente dos outros seres. Mas o amor dos dois foi logo perturbado: Lilith se mostrava impaciente com a posição natural – a mulher por baixo e o homem por cima. “Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por você? Contudo eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.” Adão nega e a submete. Lilith não aceita essa imposição e se rebela. Adão é tomado pela sensação de abandono. O sol se põe e ele sente medo da escuridão. Ele perdeu Lilith. Lilith voou para as margens do Mar Vermelho, profanou o nome de Deus e confirmou-se como demônio.
Jeová Deus proferiu sua ordem: “O desejo da mulher é para o marido. Volta para ele”. Mas Lilith recusa: “Não quero mais ter nada a ver com meu marido”. Jeová Deus insiste: “Volta ao desejo, volta a desejar teu marido”. Sua natureza mudou quando Lilith blasfemou contra Deus. Ela não é mais a esposa de Adão, é o demoníaco manifesto.
“Lilith, para nós, nasce, talvez, do sonho ou da narrativa dos Rabis, nasce de uma necessidade ou de uma fantasia coletiva” (Roberto Sicuteri). Essa é a origem do ser humano, macho e fêmea, segundo as versões bíblica, judaica e rabínica.
“Desde o início de sua criação, foi somente um sonho”. (Rabi Simon Ben Laqish)
Fonte: Sicuteri, Roberto. "Lilith, A Lua Negra". Paz e Terra, São Paulo, 1990.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Lilith, rainha das succúbus
"– É imprudente para o homem dormir em uma casa como único ocupante, pois Lilith poderá capturá-lo" (Wedeck 88)
Homens que experimentaram "erupções" noturnas acreditam que eles tenham sido seduzidos por Lilith, rainha das succúbus,
"A esposa trouxe um espelho e toda a fina mobília do porão de seu próprio lar e orgulhosamente exibiu-a pelos cômodos. Ela pendurou o espelho no quarto de sua filha, que possuía os cabelos negros em forma de coquete. A garota olhava-se, de relance, por todo o dia, e desta maneira ela era arrastada para a teia de Lilith. Aquele espelho tinha sido pendurado em um covil de demônios, e uma filha de Lilith tinha feito do espelho a sua casa. E quando o espelho fora pego de uma casa assombrada, a succubus viera junto com ele. Pois todo espelho é uma passagem para o outro mundo e este era um caminho que dava direto para a caverna de Lilith.
Lilith aparece no Zohar, o livro do Esplendor, uma obra cabalística do século 13 que constitui o mais influente texto hassídico e no Talmude, o livro dos hebreus.
Tradução:Maria Fernanda Alves Guimarães